quinta-feira, 14 de março de 2013

O prazer do silêncio

Estar num lugar onde o silêncio impera e é apenas interrompido pelos sons da natureza envolve-me em tranquilidade, tem um efeito desanuviante em que por instantes saboreio apenas o momento e me liberto da tensão do ritmo frenético do dia-a-dia.

Infelizmente nem todos os dias tenho o prazer de escutar o silêncio. Apesar de viver numa pequena vila há sempre algum som que o rompe: o motor de um carro, vozes, portas a bater, entre muitos outros.

Felizmente onde os meus pais vivem posso saborear este pequeno grande prazer!

A Festa do Silêncio

Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
 

1 comentário:

  1. Silêncio é um privilégio verdadeiramente raro...a a aproveitar ao máximo!
    Bjs
    Maria

    ResponderEliminar

Se tem algo a dizer... diga... simplesmente deixe um comentário!