segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Um poema sobre a vida


Hoje andei a vasculhar o meu baú de memórias e reencontrei-me com um poema com que me cruzei pela primeira vez há vários anos atrás. O poema é de Alice Ogando (1900-1981), tradutora e autora de diversos originais, bem como de adaptações de peças de teatro.

O poema chama-se Pesadelo, e foi publicado na revista Modas e Bordados, mas poderia igualmente chamar-se Sonho, tudo depende da forma como o lemos e sentimos.

"Arranquem-se as correntes que me prendem!
Derrubem as muralhas que me cercam!
O sol anda lá fora,
a rir, a soluçar,
a amar e a sofrer
talvez, mas a viver.

Eu não quero morrer aqui metida,
banhada no silêncio frio da escuridão.
Nasci ave liberta…
quero voar,
quebrar as asas, adejar no espaço
e cair finalmente,
heroicamente,
de vez, aniquilada, fulminada.
E nunca de asas feridas, inúteis,
padecentes.

Mas antes, pairar alto
lá longe, onde voam as águias,
além, em plena altura!
Olhos postos no sol que me alumia,
nesse bondoso irmão que assim me beija
e que não me deseja
o corpo que banhou da luz mais pura.

Mas antes quero beber avidamente
a luz argêntea do luar,
deixar-me abençoar
pelo orvalho brando da manhã,
minha serena irmã
de olhos de cinza.

Mas antes quero beber a água cristalina
que cai da nuvem densa,
nuvem pesada, imensa,
que me parecia um gigante
quando eu era menina
e já sabia sonhar, fantasiar,
porque afinal,
sou hoje como era dantes. (…)"

Este é apenas o início do poema, que a partir daqui prossegue amargurando-se cada vez mais. Transcrevi apenas a parte de que gostei, para me amargurar e entristecer bastam-me as desgraças e tristezas que nos rodeiam diariamente.

Já aprendi que não vale a pena viver amargurada… a vida são dois dias e é melhor encará-los com um sorriso, nem que seja apenas um triste e ténue sorriso, de que com uma lágrima a escorrer pelo rosto.

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