Ando a ler um livro excelente! Daqueles em que é possível mergulhar profundamente, esquecendo tudo aquilo que nos rodeia.
É uma história do género fantástico, muito imaginativa que decorre num agradável ritmo. Como acontece com todos os livros que leio, há passagens que me fazem parar e reflectir. Eis uma delas:
"Talvez a maior faculdade da nossa mente esteja na habilidade em lidar com a dor. O pensamento clássico fala-nos das quatro portas da mente, que todos atravessam de acordo com as suas necessidades.
Em primeiro lugar, a porta do sono. O sono possibilita-nos uma retirada do mundo e de toda a sua dor. O sono marca a passagem do tempo, permitindo-nos distanciar das coisas que nos magoam. Quando uma pessoa é ferida, é frequente que perca os sentidos. De igual modo, alguém que recebe notícias traumáticas poderá vacilar ou desmaiar. É esta a forma da mente se proteger da dor, passando pela primeira porta.
A segunda porta é a porta do esquecimento. Algumas feridas são demasiado profundas para sarar ou, pelo menos, para sarar com rapidez. Além disso, muitas memórias são simplesmente dolorosas e qualquer cura será impossível. O ditado que diz que «o tempo cura todas as feridas» é falso. O tempo cura a maior parte das feridas. As restantes ficam escondidas atrás desta porta.
Em terceiro lugar, vem a porta da loucura. Há alturas em que a mente sofre um golpe tão brutal que se refugia na insanidade. Ainda que isto possa aparentar não ser benéfico, é-o de facto. Existem ocasiões em que a realidade é apenas a dor e, para escapar a essa dor, a mente precisa de deixar a realidade para trás.
A última porta é a porta da morte. O recurso final. Nada pode magoar-nos depois de morrermos ou, pelo menos, é o que nos é dito.”
Patrick Rothfuss in O nome do vento
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