Uma citação sobre a qual é importante reflectir:
"Se a apatia é indiscutível, a reacção que em mim provoca peca por exagerada. Repara tu, devia corrigir setenta e cinco pontos de exame até Domingo para afixar as pautas na segunda-feira. Fi-lo em dois dias, hoje é sexta. Essa "avidez" é um risco que deves evitar a todo o custo. Por detrás do trabalho surge mais trabalho, somos nós a inventá-lo ou, pelo menos, a antecipá-lo. A agitação frenética esconde uma recusa da meditação sobre o mundo em redor e a condição humana. Os antigos tinham em grande conta uma palavra que caiu em desgraça: o ócio. O deles era, por definição, produtivo e não pai de todos os vícios. Consideravam pensar tão necessário, como o navegar da canção de Chico Buarque. Não "apenas" para filosofar, também como preparação do agir. Hoje limitamo-nos a reagir, quais ratinhos das gaiolas dos cientistas. O mais depressa possível. Como todos os excessos, este abriga um enorme vazio que atulhamos de sinais exteriores de riqueza. De que nos cansamos tão rapidamente como dos brinquedos da infância. Pensar vai-se tornando raro. Em Antropologia Médica, (...), dizemos que o homo sapiens deu lugar ao homo faber."
Júlio Machado Vaz in "O tempo dos espelhos"
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