O alargamento do horário de
trabalho está-me atravessado na garganta. Por mais que tente, que beba água,
que reflicta, que ouça opiniões alheias, não o consigo engolir.
É um retrocesso nos nossos direitos!
É uma redução de vencimento encapuzada. É uma farsa.
E justificar que é para nos
aproximar do sector privado ou para aumentar a produtividade é pura demagogia.
O problema da falta de
produtividade do nosso país não se resolve assim, criando desmotivação, não
dando nada em troca, retirando espaço para uma vida familiar feliz.
Tentou-se (falo em relação ao meu
serviço) implementar o SIADAP. Estabelecer metas e objectivos específicos. No
pouco tempo que por aqui vigorou surtiu efeitos: todos nós produzimos mais e
melhor. Mas parece que este sistema foi enfiado na gaveta…
Vamos pois ter que trabalhar 40
horas semanais, 8 horas diárias. O que significa estar 10 horas por dia fora de
casa. Em casa sobra apenas tempo para a correr tratar das refeições e dos banhos,
e depois dormir para repor energias para no dia seguinte voltar a produzir, ou
talvez não.
E os nossos filhos? Onde ficam no
meio disto tudo: 10 horas por dia “institucionalizados”, entregues a terceiros.
Quais são os pais que podem ser responsabilizados pela sua boa formação se
quase não há tempo para a dar? O que são afinal os pais: máquinas reprodutoras?
Que incentivo existe para contribuir para o aumento da taxa de natalidade deste
país? Cá por mim se queremos ter filhos, queremos passar tempo com eles, poder
educá-los, poder estar presentes, acompanhá-los de perto. Não apenas
alimentá-los, higienizá-los e enfiá-los na cama.
Estou revoltada, e cada vez mais
desmotivada. Revolta-me ver que muitas, muitas pessoas aceitam esta medida sem
questionar, defendendo-a veemente como se fosse a solução para a resolução dos
males do nosso país. Entrega-se de mão beijada direitos pelos quais lutamos a
vida inteira.
Em muitos países ricos e
desenvolvidos o horário de trabalho é de 35 ou 37 horas por semana. Empresas de
sucesso aplicam-no. Oferecem regalias aos seus funcionários. E eles produzem, e
eles vingam. Qual é então a diferença? Como é que eles conseguem e nós não?
Se houvesse uma boa coordenação,
motivação, organização e objectivos traçados, por cá em 35 horas conseguiríamos fazer
muito mais do que se faz agora. Muito mais de que nas 40 horas que vamos ser
obrigados a trabalhar.
E o que dizer do meu marido que pelo sindicato dos informáticos em direito a trabalhar 7 horas por dia, mas nunca pode usufruir por primeiro ser rv em Portugal e agora na França, apesar de ser funcionário, não o é do banco e sim de uma consultoria. Fica mal fazer o que é de direito e lá tem de fazer as oito hrs. Menos mal que agora mora bem pertinho do trabalho...
ResponderEliminarBeijinhos
pois. e depois surgem como chicotadas as opiniões de colegas sobre a ausência de pais, sobre a importancia da familia, sobre sobre sobre... reina o sentimento de culpa e daqui a pouco não sei para onde estamos a caminhar, bjos
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