(...) «Mas eu amo-o!» «Não digas disparates e come as tuas batatas fritas, está bem?» «Mas, Sr. Quinn, se o perder, perco tudo!» Eu nem queria acreditar, Sr. Goldman: aquela miúda estava loucamente apaixonado por Harry. E aqueles eram sentimentos que eu próprio desconhecia ou que não me lembrava de alguma vez ter sentido em relação à minha mulher. Foi naquele instante que me apercebi, por causa daquela rapariga de quinze anos, que jamais conhecer o amor. No fundo, as pessoas contentam-se com bons sentimentos, acomodam-se no conforto de uma vida medíocre e passam ao lado de sensações maravilhosas, talvez as únicas que justificam a existência. Um dos meus sobrinhos, que vive em Boston, trabalha na alta finança, ganha uma montanha de dólares por mês, é casado, tem três filhos, uma mulher encantadora e um belo carro. A vida ideal, portanto. Um dia, regressa a casa e diz à mulher que se vai embora, que descobriu o amor com uma universitária de Harvard que tem idade para ser sua filha e que a conheceu numa conferência. Toda a gente disse que ele tinha perdido o juízo, que procurava na rapariga uma segunda juventude, mas eu, eu acredito que ele tenha apenas descoberto o amor. Há pessoas que julgam amar-se e, então, casam-se. E depois, um dia, sem querer, sem se aperceberem, descobrem o amor. E sentem-se fulminadas. Naquele momento, é como se o hidrogénio entrasse em contacto com o ar: uma explosão fenomenal que devasta tudo. (...)
Excerto de A Verdade sobre o caso Harry Quebert de Joel Dicker
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