"- Acho que devemos estar gratos ao destino por termos saído ilesos dessas aventuras - tanto as reais como as que sonhámos.
- Tens a certeza disso? - interrogou ele.
- Dim, como também tenho a certeza que não é a realidade de uma única noite, nem a de toda uma vida que corresponde à verdade intrínseca de um ser humano.
- Nem sonho algum - suspirou ele calmamente - é inteiramente sonho.
Albertine segurou-lhe a cabeça com ambas as mãos e encostou-a ao seu seio.
- Agora estamos plenamente acordados - observou ela - por muito tempo.
«Para sempre» quis ele acrescentar. Mas antes que articulasse uma palavra, ela colocou-lhe um dedo sobre os lábios e murmurou como que para si própria:
- Nunca se deve averiguar o futuro.
E assim ficaram deitados, em silêncio, dormitando aos poucos, num sono despovoado de sonhos, juntos um do outro. Até que, como todas as manhãs, às sete horas, se fez ouvir uma batida na porta do quarto e, com os habituais ruídos vindos da rua, um triunfante raio de sol deslizando entre as cortinas e a gargalhada alegre de uma criança no quarto ao lado, outro dia começou."
Arthur Schnitzler in A história de um sonho
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