"Naquele dia não se queria arriscar a passar tempo sozinho em casa, nem sequer se atrevera a ouvir o rádio, evitando as músicas que eles iriam dedicar, esta e aquela mensagens lidas no ar. Apenas iria fazer com que ele sentisse a falta... de tudo. Sim de tudo. Sentia saudades da porta a fechar-se, quando ela chegava a casa à noite depois do trabalho. Sentia a falta das mensagens telefónicas (...). Sentia a falta do clube do livro de Christine (...) Sentia saudades de como se sentia ao segui-la escadas acima, de a despir e fazer com ela um amor lascivo, naqueles ataques espontâneos e românticos que Grigori considerava um privilégio secreto da vida de casado.
Claro que ele sabia que tipo de pensamentos eram aqueles: aqueles nem sempre verdadeiros em que se esquecia convenientemente de outros momentos, em que ele e Christine se tinham zangado pela mais pequena coisa, em que se tinham até sentido irritados pela mera presença constante do outro; e por vezes até tinham dito coisas terríveis - irreversíveis e dolorosas - que, depois, se prolongavam durante muito tempo como um odor fétido. De seguida, havia longos períodos de calma. E no entanto, aquelas discussões, aquela irritação, também isso fazia parte da cola delicada que os mantinha juntos, que os fazia sentir alguma coisa, mesmo quando por vezes, se sentiam fartos um do outro durante longos períodos de tempo, cansados
um do outro, antes de voltarem a assentar no seu amor mais habitual, domesticado e tranquilo, mas ainda forte e real."
Daphne Kalotay in Inverno Russo
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